quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A próxima bolha...

Nos últimos dias o FED tem agido muito mais para conter o pânico nos mercados do que para amenizar uma provável recessão. Dessa forma estão sendo criadas condições para a ocorrência de mais uma bolha especulativa que não se sabe bem onde acontecerá. Porém, os players globais poderão simplesmente não embarar nessa e passar a exigir atitudes que realmente impliquem num começo de solução e não num contínuo adiamento dos problemas. Se o mercado não embarcar nessa, voltarão com força as turbulências e uma provável corrida contra o dólar. Então esteremos fritos. E essa é uma possibilidade real.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Saída pelos fundos...

Desde o início da crise imobiliária americana, os fundos soberanos já injetaram mais de US$ 69 bilhões para recapitalizar os maiores bancos de investimentos do mundo. Só o Citigroup e o Merrill Lynch foram socorridos com mais de US$ 21 bilhões desse montante.

Esse fundos, administrados pelos governos de países como Rússia, Cingapura, Kuwait, Coréia do Sul, China, entre outros, se proliferaram em função das exportações asiáticas e principalmente pela valorização do petróleo. Juntos, possuem mais de US$ 2,9 trilhões para investir e seus interesses vão além do setor financeiro; incluem telecomunicações, empresas de tecnologia, operações de cassino e até mesmo projetos aeroespaciais.

Em princípio, todos nós gostamos de investimento estrangeiro. Mas, quando o dinheiro pertence à outro governo, um certo desconforto começa a se fazer sentir.

Primeiro, sendo investimentos bilionários, possuem força suficiente para desestruturar qualquer mercado. Ainda, esses governos têm pouca responsabilidade com órgãos reguladores e acionistas. Assim, essas condições podem constituir players de integridade duvidosa. Embora não haja evidência de mau comportamento, o governo Francês já se pronunciou dizendo que tem o compromisso de proteger seus inocentes empresários da agressividade dos fundos soberanos.

Segundo, já podemos esperar reações fortes de grupos nacionalistas e protecionistas, uma vez que há interesse, por parte dos fundos, em setores de grande importância, como por exemplo, de energia e infra-estrutura estratégica. Entretanto, considerando a situação atual da economia americana, o socorro foi mais do que providêncial.

Enfim, os fundos soberanos são a prova de que o capitalismo funciona. O dinheiro daqueles que possuem excedentes é transferido para aqueles que necessitam. O que falta agora é, mais transparência em relação aos motivos, objetivos e posses desses fundos. Atenção neles, segundo George Soros: "Os bancos centrais perderam o controle". Para meio entendedor, meia palavra basta.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Inflação: um problema ou nem tanto...

Alguns apontam que o abrandamento das condições monetárias e o rápido crescimento do crédito com taxas de juros baixas, têm sido o combustível para a inflação mundial.

Outros, se preocupam com o enfraquecimento da concorrência dos produtos chineses e o aumento desenfreado da demanda por recursos pelos países emergentes, aumentando ainda mais os preços dos commodities. Só o petróleo teve um aumento de mais de 80% nos últimos 12 meses.

Em parte, as duas linhas de pensamento estão corretas mas nenhuma delas oferece uma explicação profunda e abrangente do problema em questão.

Na China, por exemplo, a taxa de inflação triplicou no ano passado mesmo com o governo impondo inúmeros controles sobre preços (principalmente no início desse mês) e mantendo uma política monetária cada vez mais apertada. O que de fato aconteceu é que a China aumentou significativamente, nos últimos anos, suas reservas em moedas estrangeiras, inflando desta forma o crescimento da moeda nacional. Lá, o aumento da inflação é quase que totalmente devido ao preço dos alimentos, principalmente da carne de porco. Prova disso, é que o núcleo da inflação (índice que exclui alimentos, por exemplo) foi de apenas 1,4%. E, mesmo com os preços dos produtos importados chineses aumentando em função da fraqueza do dólar, estes são ainda muito mais baratos. Com a China produzindo mais itens de maior valor agregado, isso puxará para baixo os preços da produção doméstica de vários setores.

Em relação à demanda por commodities, observamos que atualmente, o cenário macroeconômico é cada vez mais potencializado por países emergentes (BRICS). Estes, devido às suas respectivas infra-estruturas, têm o crescimento concentrado em energia e commodities, muito mais que os países ricos. Essa mudança significa que a antiga relação entre a maior economia do mundo e os commodities pode estar mudando. Nas recessões americanas passadas, os preços do petróleo e de outros recursos cairam. Isso não é mais assim. Houve uma mudança estrutural na economia global.

Então os preços dos commodities vão oscilar cada vez mais? Não. As economias emergentes, embora estejam mais resilientes, é improvável que continuem crescendo da mesma forma. Em determinado momento a demanda irá enfraquecer e assim como os preços desses recursos.

Enfim, dentre os problemas que assolam as principais economias do globo, acreditamos que talvez esse, pelo menos, esteja com seus dias contados.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Lá fora...

À luz dos dados sobre o mercado de trabalho americano divulgados no dia 4 do corrente mês, o Merrill Lynch foi contundente ao dizer que a recessão nos Estados Unidos já havia começado. Por outro lado, ontem, o secretário do Tesouro americano Henry Paulson, descartou implicitamente um cenário recessivo no país.

Em meio a essas percepções divergentes, temos alguns fatos consolidados:

- Em dezembro, taxa de desemprego de 5%, ante expectativa de 4,8%, e ainda 18 mil empregos gerados contra uma previsão de 70 mil;

- Queda dos preços do mercado imobiliário;

- Contração do crédito e

- Elevação dos preços de energia.

Com este cenário, o FED e o governo americano têm duas ferramentas. A primeira é seguir com os cortes da taxa básica de juros. O próximo corte está previsto para o final de janeiro. A segunda é um afrouxamento da política fiscal do país.

Em relação aos cortes na taxa básica de juros, vale lembrar que foi exatamente este tipo de ação entre 2001 e 2003 que semeou a crise do setor imobiliário de hoje.

Já na segunda opção, com os níveis atuais de endividamento do referido país, o espaço para manobra se reduz bastante.

Enfim, se é recessão ou desaceleração do crescimento, não importa. O foco deve estar no que é fato consolidado e principalmente nas ações do FED e do governo americano, no que tange aos seus desdobramentos e futuras conseqüências.