segunda-feira, 30 de junho de 2008

Hora de apertar...

Temos acompanhado, principalmente nos últimos meses, a escalada da inflação em nível mundial. Essa alta de preços, fortemente impulsionada pela apreciação dos alimentos e do barril do petróleo, tem exigido um trabalho minucioso dos dois principais bancos centrais: o FED e o BCE. 

A economia americana fortemente abatida pela crise hipotecaria, de crédito e imobiliária teve sua taxa básica de juros mantida em 2% a.a na última quarta-feira, depois de sete cortes consecutivos de setembro à abril. A medida foi tomada com o objetivo de segurar a escalada de preços no território americano.

 Já na Europa, na primeira semana de julho, com o mesmo objetivo de segurar a escalada de preços, o BCE deverá aumentar em 0,25 p.p sua taxa básica de juros há meses mantida inalterada em 4% a.a.

Como EUA e Europa apresentam queda no ritmo de crescimento, é preciso uma sintonia fina no que tange à política monetária, para conter os preços e não comprometer o crescimento das respectivas economias. Por incrível que pareça, esse não é o maior desafio.

Com essa diferença de taxas de juros entre EUA e Europa, os grandes investidores realizam a chamada arbitragem de juros.  Assim, a moeda americana segue se desvalorizando frente ao Euro, aumentando o poder de compra da última moeda. Como os alimentos e o barril do petróleo são cotados em dólares no mercado internacional, mais investidores tem acesso à essas commodities. Dessa forma, os preços seguem em alta, além de commodities serem consideradas mais seguras em épocas de recessão.

Com os EUA mantendo inalterada sua taxa de juros provavelmente até as eleições presidenciais e o BCE elevando a mesma para 4,25% a.a já na sua próxima reunião podemos esperar pressões inflacionárias mais intensas e o barril do petróleo acima dos US$150.


quinta-feira, 5 de junho de 2008

... inflação..


Em 1970, o fenômeno da inflação tomou conta do cenário econômico global desacelerando o crescimento das principais economias do mundo. Naquela época, a política monetária estava frouxa e o preço do petróleo disseminou a inflação pelos outros setores da economia. Hoje, a política monetária está tão solta como em 1970: a média da taxa real de juros no mundo está negativa.

Será que os Estados Unidos e os paises da zona do Euro estão semeando a nova era inflacionaria com cortes e/ou  manutenção de suas taxas juros? Na verdade, não. Diferentemente da época da The Great Inflation, os países em desenvolvimento é que estão mais vulneráveis ao referido fenômeno.

Os Estados Unidos e a Europa, já se encontram em um processo de desaceleração econômica que poderá perdurar até 2009. As taxas de desemprego apresentam leve tendência de crescimento,  que como conseqüência conterá uma alta dos salários.  Tudo isso sugere que o consumo caia. Empresas irão cortar custos e limitar os aumentos salariais. Além disso, o índice de confiança do consumidor americano é o mais baixo em mais de 20 anos. Tudo isso contribuirá para conter a alta de preços.

Já nos países emergentes a situação é bem diferente. O aumento recente dos preços tem sido causado principalmente pelo aumento dos preços de energia e dos alimentos. Nesses países,  as economias se encontram aquecidas com alta demanda por commodities, ou seja, a alta dos preços se dá pela forte demanda e não pela escassez da oferta. Mas, o que temos visto não é um aperto monetário e sim subsídios e controle de preços. Essas ações são ineficazes no longo prazo, uma vez que não incentivam a produção nem desaceleram a demanda.

Ainda, alguns países da Ásia e grandes exportadores de petróleo estão em situação mais complicada. Grandes volumes em reservas e moedas atreladas ao dólar dificultam o estabelecimento de uma sintonia fina entre as políticas monetária e cambial.

E o Brasil? O BC brasileiro tem dado firmes demonstrações de que não vai permitir o recrudescimento da inflação. Diferentemente da maioria dos países emergentes, o Brasil vem elevando sua taxa básica de juros antecipando-se a uma conjuntura de aumento de preços e manifestando, desta forma, uma clara percepção do cenário global. Por um lado, essa ação além de preventiva e prudente, tem nos mantido atraentes ao capital externo. Por outro, esse elevado e contínuo fluxo de entrada de capitais vêm pressionando a nossa taxa de câmbio, potencializando uma possível vulnerabilidade futura em nossas contas externas.