quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O gigante asiático...


Nesta semana, enquanto todos os olhares estavam voltados para a luta dos bancos centrais das principais economias do mundo contra a crise de liquidez dos mercados financeiros e seus desdobramentos na economia real, a desaceleração do crescimento do PIB da China mostra que a recuperação pode ser mais lenta e difícil para os Estados Unidos e testa também a imunidade de alguns emergentes em relação aos desafios macro-econômicos, entre eles, o Brasil.

A China, que apresentou um crescimento de mais de 12% em 2007, divulgou nesta segunda-feira um  aumento de 9% (year-on-year) no PIB do terceiro trimestre de 2008. Embora seja um resultado muito superior aos padrões americanos e europeus, já demonstra desaceleração.

Essa notícia definitivamente não é boa para os americanos, uma vez que o gigante asiático é um grande investidor no mercado de capitais do país, principalmente através de títulos do tesouro, e através do seu fundo soberano - o China Investment Corp. - que possui participação em grandes empresas e instituições financeiras como o Morgan Staney, Visa, Blackstone entre outras. Além disso, a China é um importante parceiro comercial dos Estados Unidos, sendo o terceiro maior destino das mercadorias americanas, o que em 2001 contribuiu para que a América não caísse numa depressão ainda mais profunda. Sem contar que nesta época, a China estava apenas iniciando sua abertura ao comércio mundial. 

No caso do Brasil, a China é uma grande compradora do nosso minério de ferro e o   arrefecimento do mercado imobiliário chinês acaba comprometendo muito o resultado das nossas exportações. Além do minério de ferro, soja e outras matérias primas são destinadas à China, lá são manufaturadas e vendidas ao mundo desenvolvido. Mas, com Europa e Estados Unidos apresentando problemas de liquidez para financiar suas compras, há grandes estoques dos produtos brasileiros nos portos asiáticos, diminuindo assim a necessidades de novas compras. 

Embora no terceiro trimestre o gigante asiático tenha divulgado um resultado aquém das expectativas, as perspectivas são boas.  Há espaço para trabalhar suas políticas fiscal e monetária e apresenta taxa da inflação cadente. Se o mundo não apresentar nenhum novo fantasma a China logo volta aos dois dígitos de crescimento, mostrando que a "Teoria do Descolamento" tem suas restrições.    
 

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Luz no fim do túnel...


O mercado acionário brasileiro vem sofrendo perdas significativas. A razão desta tendência baixista pode ser facilmente entendida quando aceitamos que o nosso mercado apresenta grande exposição à commodities, alto volume de participação de capital estrangeiro nas negociações e que a nossa taxa básica de juros é uma das mais altas do mundo.

Desde o mês passado, tanto os preços dos metais quanto os de energia vêm apresentando desvalorização no mercado internacional. O barril do petróleo chegou a desvalorizar mais de 20% do preço máximo de US$ 147 cotado no dia 11 de julho. Em relação ao capital estrangeiro, a Bovespa acumulou no primeiro semestre saldo negativo de mais de R$ 6,65 bilhões . Além disso, no último boletim Focus do Banco Central a previsão é de encerrarmos o ano com a Selic em 14,50% , dificultando o desempenho de qualquer setor no mercado acionário.

Por outro lado, para o início de 2009 a previsão é de um cenário menos turbulento e com potencial de bons investimentos. Mesmo com as commodities menos aquecidas, as empresas desse setor têm perspectiva de apresentar fortes resultados e desde já possuem preços atrativos de compra de seus papeis. A crise de liquidez americana tende a se esgotar a medida que grandes bancos se livram ou até mesmo recompram ativos podres como fez o Citigroup, num esforço para retomar a confiança  do grande investidor. Com isso, o dólar já mostra sinais de fortalecimento diante do euro e da moeda japonesa. Já a inflação, tende a mostrar menos força no ano que vem permitindo uma política monetária levemente mais frouxa.

Dito isso, a sugestão para quem já está investindo é aguardar a reação do mercado em meados de 2009 e, para quem ainda não é investidor, é aproveitar algumas pechinchas que estão por aí dando sopa. 

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Hora de apertar...

Temos acompanhado, principalmente nos últimos meses, a escalada da inflação em nível mundial. Essa alta de preços, fortemente impulsionada pela apreciação dos alimentos e do barril do petróleo, tem exigido um trabalho minucioso dos dois principais bancos centrais: o FED e o BCE. 

A economia americana fortemente abatida pela crise hipotecaria, de crédito e imobiliária teve sua taxa básica de juros mantida em 2% a.a na última quarta-feira, depois de sete cortes consecutivos de setembro à abril. A medida foi tomada com o objetivo de segurar a escalada de preços no território americano.

 Já na Europa, na primeira semana de julho, com o mesmo objetivo de segurar a escalada de preços, o BCE deverá aumentar em 0,25 p.p sua taxa básica de juros há meses mantida inalterada em 4% a.a.

Como EUA e Europa apresentam queda no ritmo de crescimento, é preciso uma sintonia fina no que tange à política monetária, para conter os preços e não comprometer o crescimento das respectivas economias. Por incrível que pareça, esse não é o maior desafio.

Com essa diferença de taxas de juros entre EUA e Europa, os grandes investidores realizam a chamada arbitragem de juros.  Assim, a moeda americana segue se desvalorizando frente ao Euro, aumentando o poder de compra da última moeda. Como os alimentos e o barril do petróleo são cotados em dólares no mercado internacional, mais investidores tem acesso à essas commodities. Dessa forma, os preços seguem em alta, além de commodities serem consideradas mais seguras em épocas de recessão.

Com os EUA mantendo inalterada sua taxa de juros provavelmente até as eleições presidenciais e o BCE elevando a mesma para 4,25% a.a já na sua próxima reunião podemos esperar pressões inflacionárias mais intensas e o barril do petróleo acima dos US$150.


quinta-feira, 5 de junho de 2008

... inflação..


Em 1970, o fenômeno da inflação tomou conta do cenário econômico global desacelerando o crescimento das principais economias do mundo. Naquela época, a política monetária estava frouxa e o preço do petróleo disseminou a inflação pelos outros setores da economia. Hoje, a política monetária está tão solta como em 1970: a média da taxa real de juros no mundo está negativa.

Será que os Estados Unidos e os paises da zona do Euro estão semeando a nova era inflacionaria com cortes e/ou  manutenção de suas taxas juros? Na verdade, não. Diferentemente da época da The Great Inflation, os países em desenvolvimento é que estão mais vulneráveis ao referido fenômeno.

Os Estados Unidos e a Europa, já se encontram em um processo de desaceleração econômica que poderá perdurar até 2009. As taxas de desemprego apresentam leve tendência de crescimento,  que como conseqüência conterá uma alta dos salários.  Tudo isso sugere que o consumo caia. Empresas irão cortar custos e limitar os aumentos salariais. Além disso, o índice de confiança do consumidor americano é o mais baixo em mais de 20 anos. Tudo isso contribuirá para conter a alta de preços.

Já nos países emergentes a situação é bem diferente. O aumento recente dos preços tem sido causado principalmente pelo aumento dos preços de energia e dos alimentos. Nesses países,  as economias se encontram aquecidas com alta demanda por commodities, ou seja, a alta dos preços se dá pela forte demanda e não pela escassez da oferta. Mas, o que temos visto não é um aperto monetário e sim subsídios e controle de preços. Essas ações são ineficazes no longo prazo, uma vez que não incentivam a produção nem desaceleram a demanda.

Ainda, alguns países da Ásia e grandes exportadores de petróleo estão em situação mais complicada. Grandes volumes em reservas e moedas atreladas ao dólar dificultam o estabelecimento de uma sintonia fina entre as políticas monetária e cambial.

E o Brasil? O BC brasileiro tem dado firmes demonstrações de que não vai permitir o recrudescimento da inflação. Diferentemente da maioria dos países emergentes, o Brasil vem elevando sua taxa básica de juros antecipando-se a uma conjuntura de aumento de preços e manifestando, desta forma, uma clara percepção do cenário global. Por um lado, essa ação além de preventiva e prudente, tem nos mantido atraentes ao capital externo. Por outro, esse elevado e contínuo fluxo de entrada de capitais vêm pressionando a nossa taxa de câmbio, potencializando uma possível vulnerabilidade futura em nossas contas externas.

terça-feira, 22 de abril de 2008

No banco de reservas...


Um mercado imobiliário quebrado, crédito contraído, altos preços de alimentos e energia e agora um enfraquecido mercado de trabalho, estamparam o primeiro trimestre americano. Por outro lado, ações de política monetária, estímulos fiscais pelo congresso, taxas de juros decrescentes e reformas no setor financeiro seguem atuando de forma a amortecer e atenuar a penetração da desaceleração por outros setores da economia dos Estados Unidos. Se dessa forma a queda não será tão acentuada, quando terá início a recuperação da maior economia do mundo?

Na década de 1990 alguns paises europeus passaram por crises financeiras sérias semeadas por dificuldades no setor imobiliário que desencadearam anos de estagnação. Ainda, a herança que esses estímulos e reformas fiscais irão deixar para o próximo presidente americano será um desafio e tanto de solução que levará alguns bons meses, principalmente se ele for Democrata.

Se o crescimento do PIB global a uma taxa de 3,7% em 2008, percentual previsto pelo FMI, fosse um título a ser conquistado pela seleção formada por players mundiais de vários continentes, o Estados Unidos estariam no banco de reserva, pelo menos até o segundo semestre de 2009.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Sairemos ilesos?


Dois dias depois da agência Standard & Poor’s sugerir que a crise de crédito poderia estar próximo do seu final, o banco Bear Stearns pede água e é socorrido pelo FED e JP Morgan, através de um empréstimo para necessidades de curto prazo (linha de crédito de duração de 28 dias). Dito isso, podemos concluir que das duas hipóteses a seguir, uma prevalecerá:

- A agência Standard & Poor’s está correta em sua visão. O Bear Stearn pode ter sido realmente o último grande banco a ser socorrido e a crise estaria se dissapando ou;

- Esta mesma renomada instituição teria se exposto e deixado claro para o mercado que a verdadeira dimensão e profundidade da crise é desconhecida.

Enquanto isso, no cenário doméstico, o COPOM deixou claro que se necessário for aumentará a taxa básica de juros para conter uma possível pressão inflacionaria e/ou fuga de capitais. Na próxima terça-feira, a taxa de juros americana provavelmente vá para 2,25%. Teremos então, a manutenção de um cenário muito claro de atratividade de investimentos no Brasil (em função da diferença entre as taxas de juros).

Enfim, independentemente da nebulosidade do cenário externo, continuamos com a perspectiva de uma blindagem consistente do nosso país frente às adversidades daí advindas.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A Globalização e o Descolamento...


São conceitos que podem coexistir? Para alguns, a globalização entrelaçou o comércio internacional as finanças globais de tal maneira que seria improvável que os países emergentes saíssem incólumes de uma turbulência nas economias desenvolvidas, colocando por terra a teoria do descolamento num mundo globalizado. Outros afirmam que são conceitos que podem muito bem coexistir. Essa também é a nossa opinião.

Temos observado que os desafios que a economia americana vem enfrentando têm fomentado as relações comerciais entre os países emergentes, ou seja, aquela idéia que países pobres exportam para os países ricos é coisa do passado. O comércio entre Brasil, Russia, Índia, China (BRIC) e outras economias emergentes nunca esteve tão aquecido.

O resultado dessa relação comercial entre as economias em desenvolvimento tem sido aumento do consumo doméstico e principalmente dos investimentos em infra-estrutura.

O lucro de algumas multinacionais americanas no quarto trimestre surpreendeu até mesmo os mais otimistas, ao verificarem que o bom desempenho de suas sucursais nos países emergentes contrabalanceou perdas no seu país de origem.

Ainda: mesmo que os preços das commodities (que representam grande parte da pauta de exportação dos BRIC) enfraqueçam, diminuido assim as receitas provenientes das vendas externas, alguns países em desenvolvimento, por terem se tornado credores líquidos, têm agora muito mais espaço para ações de política fiscal ou monetária.

Dito isso, é importante salientar que, mesmo que a teoria do descolamento esteja se confirmando não quer dizer que a crise americana não trará nenhum impacto ao resto do mundo, ou ainda, que os emergentes salvarão a economia global de um possível desaquecimento. Para mais detalhes sugerimos a leitura do nosso post de 21 de dezembro de 2007, entitulado "Para um bom 2008".